PERSONAGENS HISTÓRICAS
Personagens históricas que se distinguiram no campo da política ou da cultura.
Podemos considerar a primeira personagem histórica de Aljustrel, D. Paio Peres Corrêa, Grande-Mestre da Ordem de Santiago de Espada, que conquistou o Castelo de Aljustrel aos Mouros, em 1234 e a quem D. Sancho II, em 1235, fez doação desta praça e o seu vastíssimo território.
Depois da atribuição a Aljustrel, em 1252, do Primeiro Foral, por D. Afonso III, só passados 3 séculos, se evidenciaram dois dos seus Alcaides e Comendadores, que contribuíram para um notável desenvolvimento que se verificou em Aljustrel, ao longo das primeiras décadas do séc. XVI.
Foram eles Fernão de Mascarenhas, que ao findar do séc. XV deu um grande impulso à vila, interessando-se já pelo couto mineiro e pelo recenseamento, pela arte sacra e zelando pelos interesses da Ordem de Sant’Iago. O outro foi Martin Vaz Mascarenhas, em cuja vigência se marca uma etapa relevante com a doação do Foral Manuelino e se realiza o censo de 1532 e a Visitação de 1533.
Gaspar Pires de Rebelo, licenciado, sacerdote, teólogo, pregador, freire da Ordem Militar de Santiago da Espada, no Convento de Palmela, prior da vila de Castro Verde, foi um dos autores mais populares do séc. XVII, considerado o precursor da novela picaresca em Portugal. Nasceu em Aljustrel, no final do séc. XVI, e morreu por volta de 1680.
António Coelho Guerreiro, Capitão General e fidalgo da Casa de Sua Alteza, foi outro notável aljustrelense dos sécs. XVII e XVIII. Notabilizou-se no campo da administração colonial, ocupando lugares de destaque no Brasil, na Índia e na Capitania Mor das Ilhas de Timor, entre 1700-1705. Falecido em 5 de Fevereiro de 1720, na vila do Redondo, deixou em testamento grande parte dos seus bens à Misericórdia de Aljustrel, ficando assim ligado à história desta instituição.
Na história contemporânea a figura aljustrelense que mais se destacou foi sem dúvida Manuel de Brito Camacho, que nasceu em 1862, em Aljustrel, e faleceu em 1934, em Lisboa. Foi uma das personalidades de maior relevo da política republicana. Foi médico, político, jornalista e escritor.
Em 1906 fundou e dirigiu A Lucta, diário que pela sua orientação ideológica, exerceu significativa influência na sociedade portuguesa, contribuindo para a implantação da República. Em 1908 foi eleito deputado do Partido Republicano pelo círculo de Beja.
Em 1910 foi nomeado ministro do Fomento. Em 1912, funda o Partido União Republicana, que tinha como porta-voz A Lucta. Nos finais de 1921, Brito Camacho é nomeado Alto Comissário da República na colónia de Moçambique. Mais tarde, o estadista veio a dedicar-se somente à literatura, escrevendo com reconhecido talento uma vasta obra, a qual foi objecto de estudo por parte de escritores consagrados, como Mira Ferreira, Óscar Lopes e Aquilino Ribeiro. É patrono da Escola EB 2,3 de Aljustrel.
Outra figura de grande relevo da freguesia foi António Lobo Almada Negreiros, que nasceu em 1868, em Aljustrel, e faleceu em 1939, em Paris. Foi jornalista, escritor, administrador do concelho de S. Tomé, Encarregado de Negócios e Vice-Cônsul de Portugal em Paris.
Organizou em Paris a Exposição das Colónias Portuguesas, na Exposição Universal de 1900. Foi Sócio da Academia de Ciências de Lisboa e Sócio honorário das Sociedades de Geografia de Paris e Londres. Deixou-nos grande repositório de trabalhos escritos sobre a etnografia das colónias portuguesas.
Era filho de Pedro de Almada Pereira, que, em 1872, fundou a primeira tipografia em Aljustrel e editou um periódico intitulado “O Campo d’Ourique”, que tinha como redactor o P.e António Joaquim Baptista Cardote. Era também pai da grande figura da cultura portuguesa do século passado, mestre José de Almada Negreiros.
Outros contemporâneos de Brito Camacho e Almada Negreiros, que merecem figurar nesta galeria de notáveis aljustrelenses, são:
António Lobo Aboim Inglês (1860, Aljustrel-1941,Aljustrel), engenheiro de minas, director das minas de S. Miguel de Huelva (Espanha), professor catedrático do Instituto Superior Técnico, deputado republicano, ministro da agricultura (1921), presidente da Associação Industrial Portuguesa e representou Portugal em várias missões no estrangeiro;
Manuel Joaquim Brando (1865, Aljustrel-1934, Aljustrel), médico, exercendo durante várias décadas, em Aljustrel, a sua nobre profissão de forma altruísta, como um verdadeiro João Semana.
De convicções republicanas e democráticas, teve acção preponderante na fundação das seguintes associações: Montepio Aljustrelense, em 1893, Sindicato Agrícola, em 1907, Centro Republicano de Instrução e Recreio Aljustrelense, em 1906, e Caixa de Crédito Agrícola, em 1912; José dos Santos Luz, nascido em Aljustrel, em 1882, foi o poeta romântico que melhor cantou a sua terra-mãe.
Colaborou em vários jornais da época e publicou uma apreciável obra, da qual referimos Sonetos de Paixão e Minha Terra. Faleceu tragicamente em circunstâncias de suicídio em Lisboa, em 1923.
Podemos ainda referir, entre outros, os seguintes cidadãos aljustrelenses que, no campo das letras e da cultura, dignificaram esta terra, onde nasceram e/ou onde viveram:
Adeodato Barreto (1905-1943), notário hindu-português, humanista, escritor e jornalista, tendo fundado, em 1934, o jornal “O Círculo”, organizou a “Sopa dos Pobres” e foi o percursor em Aljustrel da língua internacional “ O Esperanto”;
Maria de Portugal Dias, (Ourique,1883 - ? ), novelista e jornalista; Francisco Soares Victor (Messejana, 12/04/1859 – 19/09/1929), notário, presidente da Câmara Municipal de Aljustrel, proprietário e editor do periódico “O Campo d’Ourique” (1898-1909), e fundador da primeira Biblioteca Municipal de Aljustrel; Costa Metello, que escreveu a novela A Torre da Má Hora (1943);
José Romão Santos Ferro (Aljustrel, 1898-1933), advogado, jornalista e escritor (Agni – Seara Nova, 1924); Francisco Rasquinho (Aljustrel, 1913-1992), músico filarmónico, escritor autodidacta, autor de vários livros de crónicas e contos sobre personagens aljustrelenses;
João Fortunato Rasquinho (Entradas, 1914-1992), artista plástico e poeta que cantou Aljustrel e o Alentejo; João Rodrigues Lobato (Penamacor, 1924 - 1998, Aljustrel), pároco de Aljustrel durante 37 anos, escreveu várias obras monográficas, das quais destacamos Aljustrel/Monografia (Ed. C.M.A. – 1983).
Das figuras vivas ligadas às letras e ao jornalismo, que nasceram e/ou viveram em Aljustrel, salientamos:
Luís Amaro (n. 1923, Aljustrel), poeta (Dádiva, 1949 e Diário Íntimo, 1975), crítico e investigador literário, consultor editorial e director-adjunto da revista Colóquio, Revista de Artes e Letras, e colaborador em diversas outras revistas;
Maria Rosa Colaço (Torrão, 1935), poetisa e ficcionista, que particularmente se distinguiu na literatura infanto-juvenil e publicou artigos literários em quase todos os jornais e revistas nacionais; Tito Serra (Rio de Moinhos/Aljustrel, 1948), poeta com várias publicações;
Luís Afonso (Aljustrel, 1966), cartoonista, com publicações nos diários “A Bola” e “Público” e no semanário “Reportagem”.
No campo da história e arqueologia podemos também citar os seguintes “cidadãos aljustrelenses” que por aqui passaram ou viveram e contribuíram para o enriquecimento da história desta milenar urbe:
Ruy Freire de Andrade (Lisboa, 1925), engenheiro de minas e geólogo, trabalhou nas minas de Aljustrel durante um quarto de século, tendo dedicado grande parte da sua actividade à pesquisa arqueológica e criou o Museu Arqueológico das Minas de Aljustrel; de uma vasta obra que publicou, destaca-se o trabalho “ Exploração das Minas de Aljustrel pelos Romanos”, que teve por co-autores Abel Viana (Viana do Castelo, 1896 – 1964) e Veiga Ferreira; nos trabalhos de campo, foi coadjuvado pelo aljustrelense autodidacta Eduardo Moreira, responsável pelo Museu das Minas, actualmente encerrado.
Claude Domergue, arqueólogo francês, professor da Universidade de Toulouse, pesquisou e estudou a complexa rede dos trabalhos romanos na mina de Algares.
Paulo Guimarães, historiador, professor da Universidade de Évora, viveu em Aljustrel na década de 80, tendo organizado o Arquivo Municipal e publicado vários trabalhos sobre a vida associativa e a luta sindical dos mineiros de Aljustrel.
Artur Martins (Lisboa, 1953), arqueólogo da Câmara Municipal desde 1995, organizou o Museu Municipal de Aljustrel, inaugurado em 2002.
Ainda neste campo deve fazer-se uma referência aos investigadores da U.A.AL. – Unidade Arqueológica de Aljustrel (fundada em 1991), Carlos Ramos, Luís Pita, Maria Graça Dias, Judite Calisto e o já citado Artur Martins. A eles se deve a criação da revista de Arqueologia e História, denominada “Vipasca”, que tem vindo a ser publicada anualmente e com regularidade desde 1992, com o apoio da Câmara Municipal de Aljustrel.